terça-feira, 2 de março de 2010

Paris

Já fazia anos que aquele amor ia e vinha. Tantos encontros e desencontros, que terminaram por resultar como outro qualquer. Um encontro. Um altar. Um vestido branco e um fraque. Dois sins.

Mas aquele amor não era como os outros, os quaisquer. Aquele amor era de curta metragem e não de tela de cinema. Lindo, intenso, vaporoso. A decisão, tomada de repente como todas as que os envolviam, não levou em conta essa característica. Aliás, não levou em conta nada que não fosse o amor do momento. Daqueles momentos. Que por durarem pouco mais que os outros tantos passados pareceu diferente e eterno.

Mas não sabiam já que todo amor era eterno? E que mesmo quando duas pessoas se amam diversas vezes cada um desses amores também o é? Mas quem é que sabe de algo quando está apaixonado? Ou ao menos pensa no que sabe?

Agora existia um vínculo. Algo ainda mais forte. Uma convenção, um papel, um elo de metal. Que tirava um pouco da leveza daquele amor. O vapor virava líquido.

Acontece que o vapor, por mais difícil que seja de ver, ou de prender, continua presente. Inspirado e expirado, continua ali. Vapor.

O líquido escorre. Pode ser aprisionado em uma garrafa e ali guardado para sempre. Mas pode escorrer, misturar-se com outras coisas e simplesmente perde-se. É fase de transição, entre vapor e solidez.

Não seria isso, porém, que tiraria a característica principal daquele amor, tornando-o constante. As idas e vindas não deixaram de existir. Apenas passaram a acontecer dentro do mesmo lugar e em um tempo diferente.

Porém, um dia, em meio a uma das idas, pelo menos da parte dele, veio a notícia. Um vínculo ainda maior os unia desta vez. E justo quando ele pensava em ir de vez, agora não poderia fazê-lo. Não era mais papel, não era mais o elo de metal na mão esquerda. Era carne. Era gente. Era ele mesmo. Que o obrigaria a não ir desta vez.

Ele precisou fingir-se feliz com a notícia e fazer crer que aquela ultima vinda não seria mais seguida de uma ida. A estabilidade lhe era exigida agora. E ele precisaria fingir, pelo menos por um tempo, que ela existia dentro dele.

Passaram-se os meses e fingir era uma tarefa que ele executava muitíssimo bem. Flores, presentes, comidinhas, exames, companhia. Tudo o que era necessário e ainda com um sorriso no rosto.

Ele, já cansado de fingir, esperava que chegasse o tempo em que isso poderia acabar e ele poderia ir de vez. Para não mais voltar. E chegou o dia. Depois de tanta dor, tanto choro, ele viu aquele sorriso. E depois de tantos meses surgiu nele um sorriso verdadeiramente espontâneo. Uma felicidade como as que há muito tempo não sentia. O rostinho iluminado, o som encantador e um alívio pairando no ar. Foi então que ele beijou-a com a intensidade de antes e percebeu que de tanto se comportar como um apaixonado ele se apaixonara por ela de novo.


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