domingo, 17 de outubro de 2010

Conselho

Mário Quintana aconselhou em algum lugar em seus 80 anos de poesia, que já não lembro: "Não dates as poesias".
A inspiração vem, assim como o rio, em grandes correntezas. E tem umas estiagens horríveis, que faz pensar que eu não sou eu em mim.
A saudade chegou apressada. Antes mesmo da distância. Um minuto de ausência e ela já é comigo. Fiel escudeira. Faz de cada dia um ano e deles mesmos vidas inteiras. só espero pela recompensa que o tempo a mim promete. Doce recompensa que fará valer e secar cada lágrima que já agora marejam os olhos. Precoces. Estúpidas. Insensatas. Não vêem que ainda não é chegada a hora? Que assim perdem todo o sentido? A beleza? Nunca percebem nada. Nunca me permitem perceber nada.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010


É um medo que vai, que fica,

escorre, corre, grita,

sai medo, fica.




Canção de nuvem e vento

Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
Mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe...
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!

(Mario Quintana)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Duas Vezes

E agora só quero que os dias passem depressa. Mesmo aproveitando cada segundo. Quero que voem como nunca dantes, sempre à espera do segundo eterno. O segundo, o minuto, que durarão uma vida inteira. Voem horas, voem. E que cada minuto leve consigo a lágrima que lhe cabe. E que aquele dia venha, com o sorriso e a serenidade, que aqui permanecerão.







Não consegui decidir.

Voltei.

Uma Vez

E agora só quero que os dias passem

Depressa

Mesmo aproveitando cada

Segundo


Quero que voem como nunca dantes

sempre à espera do segundo

eterno


O segundo, o minuto

durarão uma vida inteira


Voem horas

voem


E que cada minuto leve

consigo a lágrima que lhe cabe

Que aquele dia venha

com o sorriso

a serenidade

que aqui permanecerão

terça-feira, 4 de maio de 2010

bem assim...

Cresce. Cresce. Cresce. Parece que vai explodir. Não vai. Sei que aqui cabe mais e mais. Gritar. Cantar. Sorrir pra cada estranho na rua. Perder o sono. Viver o sonho. Escrever palavras desconexas. Não faz sentido. Não tem poesia. É realidade pura. Será? Mais belo que qualquer palavra em que pudesse pensar. Quero viver assim. De aqui em diante até o fim do eterno.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

primavera

Hoje vi borboletas brincando de amor.

Brincando com o amor.

Brincando de amar.


Eram amarelas com reflexos laranjas de Sol.

Brincavam inocentemente no ar primaveril.


Uma dizia à outra coisas que eu não podia escutar, mas via com toda a clareza.

Eram coisas doces, ditas sem usar palavras.


Felizes as borboletas que podem brincar de amar.

Ai de mim borboleta!

terça-feira, 6 de abril de 2010

é um resto de toco, é um pouco sozinho



Então é. Não foi será. Simplesmente passou a ser. Não como um nascimento que se espera, mas mais como uma transformação, uma mudança de estado súbita e inesperada. Sublimação. Passagem rápida do estado sólido ao vapor.

Vapor. Leveza. Que se expande indefinidamente se não tiver recipiente que lhe confira forma e volume. Forma e volume. E leveza. Característica fundamental.

Não existe mais o peso daquela atmosfera, ela mesma não existe mais. Passou como uma forte nuvem de chuva, que por algum tempo pairou sobre a cidade impedindo seu sol de brilhar. E agora brilhava, com uma luz ofuscante até. Luz alva com traços de ouro.

quinta-feira, 11 de março de 2010

fragmento de uma loucura sem data

Acordo e recordo

Não pode ter sido um sonho.

Era real demais.

Palpável até...



Vou tentar acreditar que foi apenas um pesadelo...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Por esse e todos os dias

08 de março de 1908. Centenas de trabalhadoras da fábrica têxtil Cotton, NY, entraram em greve. Motivo? Conseguir uma redução da jornada de trabalho e o descanso aos domingos. Por não terem, apesar de todo seu esforço, tido suas solicitações atendidas estas mulheres trancaram-se dentro da fábrica. Houve um incêndio e todas elas morreram.

Esta é uma das possíveis histórias que deram origem ao dia internacional da mulher. De fato, foi escolhido, durante a Convenção de Mulheres Socialistas em 1910, o dia 08 de março. Muitas são as histórias relacionadas a este dia e que possivelmente motivaram esta escolha.

E cá estamos nós, em mais um 08 de março. Homenagens nas empresas, nos órgãos públicos, nos jornais, nas televisões. Nada contra as homenagens, pelo contrário, gosto muito de receber rosas, chocolates e parabéns. O que me preocupa é a simples redução do dia de hoje a uma festividade bastante comercial. Um dia marcado por lutas e conquistas de direitos, deveria suscitar a reflexão e o debate sobre as lutas que ainda precisam ser travadas. Conquistamos muitos direitos e não podemos nos acomodar. Lutemos pelos direitos de todos. Pela igualdade, pela redução da pobreza, pelo acesso a educação.

Gostaria então de desejar parabéns a todas as mulheres, e especialmente àquelas que lutam pelos seus direitos e pelos direitos de todos. Espero que as dificuldades que enfrentamos pelo caminho não nos façam desistir dos nossos sonhos e nos fortaleçam para lutar por nossos valores.

quinta-feira, 4 de março de 2010

é pau, é pedra, é o fim do caminho

Veio de repente. Feito onda em dia de ressaca no mar. Aliás, acho que é mesmo isso. Ressaca de sentimentos. Passa um tempo calmo, sem vento, sem chuva, dias de sol, tranqüilos e angustiantes pela falta de emoções. De repente começa uma agitação quase imperceptível. Os ventos mudam de direção. E tudo se revolta. Ondas de dois a três metros levando tudo que vêem pela frente. Muda o formato da areia. Muda os desenhos daquela praia já conhecida. A areia é a mesma, o mar é o mesmo, até o nome da praia continua igual, mas seria impossível dizer que nada mudou. Talvez seja a hora de deixar a ressaca vir. Deixar o mar revolto lavar as pedras e a areia. Renovar. Mostrar algo, descobrir, revelar. E até quem sabe se deixar levar. A areia sempre fica mais alva depois da ressaca. Que venham as águas de março.

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.

terça-feira, 2 de março de 2010

Paris

Já fazia anos que aquele amor ia e vinha. Tantos encontros e desencontros, que terminaram por resultar como outro qualquer. Um encontro. Um altar. Um vestido branco e um fraque. Dois sins.

Mas aquele amor não era como os outros, os quaisquer. Aquele amor era de curta metragem e não de tela de cinema. Lindo, intenso, vaporoso. A decisão, tomada de repente como todas as que os envolviam, não levou em conta essa característica. Aliás, não levou em conta nada que não fosse o amor do momento. Daqueles momentos. Que por durarem pouco mais que os outros tantos passados pareceu diferente e eterno.

Mas não sabiam já que todo amor era eterno? E que mesmo quando duas pessoas se amam diversas vezes cada um desses amores também o é? Mas quem é que sabe de algo quando está apaixonado? Ou ao menos pensa no que sabe?

Agora existia um vínculo. Algo ainda mais forte. Uma convenção, um papel, um elo de metal. Que tirava um pouco da leveza daquele amor. O vapor virava líquido.

Acontece que o vapor, por mais difícil que seja de ver, ou de prender, continua presente. Inspirado e expirado, continua ali. Vapor.

O líquido escorre. Pode ser aprisionado em uma garrafa e ali guardado para sempre. Mas pode escorrer, misturar-se com outras coisas e simplesmente perde-se. É fase de transição, entre vapor e solidez.

Não seria isso, porém, que tiraria a característica principal daquele amor, tornando-o constante. As idas e vindas não deixaram de existir. Apenas passaram a acontecer dentro do mesmo lugar e em um tempo diferente.

Porém, um dia, em meio a uma das idas, pelo menos da parte dele, veio a notícia. Um vínculo ainda maior os unia desta vez. E justo quando ele pensava em ir de vez, agora não poderia fazê-lo. Não era mais papel, não era mais o elo de metal na mão esquerda. Era carne. Era gente. Era ele mesmo. Que o obrigaria a não ir desta vez.

Ele precisou fingir-se feliz com a notícia e fazer crer que aquela ultima vinda não seria mais seguida de uma ida. A estabilidade lhe era exigida agora. E ele precisaria fingir, pelo menos por um tempo, que ela existia dentro dele.

Passaram-se os meses e fingir era uma tarefa que ele executava muitíssimo bem. Flores, presentes, comidinhas, exames, companhia. Tudo o que era necessário e ainda com um sorriso no rosto.

Ele, já cansado de fingir, esperava que chegasse o tempo em que isso poderia acabar e ele poderia ir de vez. Para não mais voltar. E chegou o dia. Depois de tanta dor, tanto choro, ele viu aquele sorriso. E depois de tantos meses surgiu nele um sorriso verdadeiramente espontâneo. Uma felicidade como as que há muito tempo não sentia. O rostinho iluminado, o som encantador e um alívio pairando no ar. Foi então que ele beijou-a com a intensidade de antes e percebeu que de tanto se comportar como um apaixonado ele se apaixonara por ela de novo.


Freely inspired by....

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mais uma notícia por aqui....
Estreou ontem o novo espetáculo dos palhaços trovadores. "O mão de vaca" é uma livre adaptação da obra de Moliére "O Avarento". Tenho acompanhado um pouco deste processo de montagem pela rádio Cultura FM e estou ansiosa para ver o resultado final. Tem espetáculo hoje e amanhã, às 20:00h, no anfiteatro da Praça da República, gratuito. Sei que tem em outros fins de semana também, mas não tenho certeza de dias e horários.

Palhaços Trovadores foi o primeiro grupo a trabalhar e pesquisar a linguagem do clown em Belém do Pará, fazendo um trabalho voltado essencialmente para a valorização da cultura popular. Vale a pena conferir =)

O apagar do Fogo



Hoje ao ler o blog Entrelinhas do Luciano Assis descobri que a Banda "Cordel do Fogo Encantado" está encerrando carreira. A notícia me deixou triste e me trouxe a lembrança da primeira vez que ouvi a banda.
Eu com 14 anos, no carro da minha irmã mais velha Marina, na época com 18 e em seu primeiro ano de universidade. Achei aquela música "esquisita" e pedi a ela que tirasse. A "sys", como sempre, não só se recusou, como aumentou o volume e me fez ouvir várias vezes. Ainda Bem. Acabei gostando da banda e aprendendo a apreciar o trabalho deles. Um som diferente de tudo que já tinha ouvido, uma poesia linda. Tudo muito Brasileiro.
E agora me pego aqui, lamentando o fim da banda e não ter tido a oportunidade de ver um show deles ao vivo. E agradecendo a minha irmã por toda sua colaboração na minha formação, inclusive e principalmente, no meu gosto musical.


Pra quem gosta, ou quer conhecer, vai um videozinho de lembrança =)







terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Marta

Marta não era convencionalmente bonita. Tinha a pele branca de leite e os ossos grandes e afiados. Saboneteiras salientes e joelhos pontudos, era isso o que o encantava nela. E que mesmo com toda aquela magreza tinha um caminhar de moça com curvas.

Ele a via passar todos os dias. Acompanhava seus passos com olhar distante imaginando a vida que levava.

Devia ser garçonete, com aquelas pernas. Que embora finas compunham o conjunto perfeito de linhas e ângulos do seu corpo. Pernas de garçonete.

Mas, não. Ela de certo trabalhava em alguma daquelas livrarias charmosas de Ipanema. Tinha um ar sério e uma pele de quem só via a praia ao fim do dia. No caminho de casa, de dentro do ônibus.

Era solteira, morava com os pais no Botafogo e cursava letras. Devia estar na faixa dos vinte e três anos de idade.

Moça caseira, gostava de conversar, apesar de tímida.

Ele já a tinha visto por ali com algumas amigas, do trabalho com certeza. Muitas vezes trazia livros nas mãos. E quase sempre uma bolsa com ar de pesada a tiracolo.

Seus olhos, castanhos e pequenos, combinavam imensamente com seu rosto comprido.

Já fazia parte da rotina dele sentar-se em algum bar da Visconde para esperá-la passar. Suas expectativas eram por vezes frustradas, mas a ansiedade da espera e o prazer de vê-la, outras vezes, eram maiores.

Em um mês de setembro, quando o sonho já durava quase um ano, fazia duas semanas que Marta não ia nem vinha. Naquele fim de tarde ela apareceu, mais linda que nunca a seus olhos. E assim, o reflexo do Sol no aro de nobre metal dourado em seu dedo anelar esquerdo o fez acordar repentinamente de seu mais puro sonho.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Velhas parceiras e novas parcerias

Minha companheira de planos e sonhos Bárbara, ou simplesmente Bazinha, e eu começamos ontem uma nova parceria. Como sempre em um momento de entusiasmo e confluência de ideias pensamos em novos projetos, dessa vez para um tempo mais próximo. Espero que dê certo e que possa publicar aqui algum resultado disso.

Também decidi que preciso de uma revisão nos meus textos e pedi uma ajuda para minha amiga Bia - que desde os tempos de colégio sempre prestou mais atenção às aulas de português do que eu. Embora eu me esforce sei que cometo alguns deslizes com a complexa gramática de nossa querida língua. Sem falar nos erros de digitação.

Espero que as novas parcerias saiam dos planos e tragam melhorias e novidades por aqui.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A visita

Disseram-lhe que o amor não existia. Pelo menos não daquela forma pura que acreditava. E todas elas suspiraram dentro dela como num leito de morte. Joana, Cecília, Maria e mesmo aquelas que não tinham nome ou forma. Disseram-lhe que o amor não implica em fidelidade, em lealdade. Entregaram-lhe uma verdade pela qual ela não havia pedido. Tentaram acabar com seus sonhos de infância, em que o amor figurava no papel principal, muito mais importante que o tal príncipe encantado.

Ela quis fugir. Quis negar. Tentou usar a força do ultimo suspiro de cada uma delas para acreditar em si. Mas, a verdade lhe batia à porta com a crueldade do carrasco. Não adiantava fugir, mas também não havia a certeza. Ao abrir a porta era a dúvida que se apresentava de braços dados com a verdade. Por ser muito maior, e até reluzente, ofuscava um pouco a verdade fazendo-a parecer apenas uma sombra. E assim imperava.

Disseram-lhe que de uma forma ou outra ela saberia. Que o amor existe enquanto não se ama, enquanto não se consuma. Falar de amor. Não existe coisa mais bela. Vivê-lo, porém, pode ser a mais dolorosa experiência. O amor não é sincero. O amor é egoísta e Camões um mentiroso. O amor traz consigo um desejo de posse inevitável. E para manter esta posse é capaz de atos que podem ser facilmente chamados de odiosos.

Ela conseguiu reunir em si alguma força para negar tudo aquilo e mandar aquela verdade embora. Sim, porque ela sempre soubera que existem várias verdades em face de um mesmo objeto. E decididamente não era aquela verdade que ela queria para ela. Em contrapartida, a sua antiga verdade não teve mais forças para sobreviver a tantas acusações. O sonho de criança se desfez como um castelo de cartas. Restaram as cartas.

Cabia a ela agora, com elas, construir um novo castelo, uma nova verdade. A dúvida, porém, permaneceu. E não parecia que iria embora tão cedo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um 2010 um pouco atrasado

Resolvi começar o ano. Finalmente. Um pouco mais tarde que o convencional e fugindo um pouco do que tem sido o estilo desse blog, com um texto um tanto quanto pessoal. Digamos que esse ano pode ser um ano de maiores experimentações por aqui.

O início de ano foi ótimo. Tirei umas férias de verdade, das quais estava mesmo precisando. Viagem em família e tudo o mais. Pouca internet, muitas leituras, muitos filmes, muitos lugares novos e alguns já meio batidos, mas com experiências novinhas, com gosto de ano novo. Para completar o atraso ainda tive que tirar uns tais dentes do juízo que custaram um pouco pra sair. Sabe-se lá o que vem por aí sem eles. E ainda uma obra aqui em casa que me deixou sem internet...

Mas depois desse tempo é hora de recomeçar. Tenho alguns planos novos, sim adoro planejar, além de ter mantido e reforçado alguns velhos. E comecei a me aventurar um pouco mais com a escrita. Não diria que está melhor, mas algumas diferenças. Talvez não poste com tanta freqüência e quando postar os textos podem parecer meio incompletos. É que tenho tentado não esgotar as idéias. Talvez alguns sejam meio grandes. Escrevi algumas coisas nas férias que não devem terminar em uma página, mas que talvez queira postá-las assim mesmo. Não, não me tornei tão pretensiosa a ponto de achar que estou escrevendo um livro ou algo assim, só experimentando textos maiores e talvez menos autobiográficos, embora alguns ainda mais pessoais. Mas, dificilmente vou deixar minhas “epifanias”, como apelidou carinhosamente uma amiga esses meus textos que vem do nada na cabeça e que eu começo a escrever desesperadamente no bloquinho que anda comigo.

Tenho sentido a necessidade, também, de algumas vezes escrever algo mais pessoal, sobre algumas experiências. Principalmente sobre o que ando lendo e assistindo. É que às vezes fico tão entusiasmada com um livro, um filme, um lugar, que tenho vontade de dividir isso com quem tiver interesse. Para isso vou dar uma organizadinha por aqui, colocar umas marcações decentes e etc. Bora ver se dá certo...Espero que sim!

De resto, um feliz 2010 para todos nós. Que nele continuem as amizades, o amor, a inspiração, a espontaneidade. Que não percamos a capacidade de sonhar e de realizar sonhos. Que tenhamos forças para lutar por nossos valores, perseverança para mudar a sociedade em que vivemos e fé, sempre.

“Em matéria de viver, nunca se pode cegar antes.” A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector