terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Marta

Marta não era convencionalmente bonita. Tinha a pele branca de leite e os ossos grandes e afiados. Saboneteiras salientes e joelhos pontudos, era isso o que o encantava nela. E que mesmo com toda aquela magreza tinha um caminhar de moça com curvas.

Ele a via passar todos os dias. Acompanhava seus passos com olhar distante imaginando a vida que levava.

Devia ser garçonete, com aquelas pernas. Que embora finas compunham o conjunto perfeito de linhas e ângulos do seu corpo. Pernas de garçonete.

Mas, não. Ela de certo trabalhava em alguma daquelas livrarias charmosas de Ipanema. Tinha um ar sério e uma pele de quem só via a praia ao fim do dia. No caminho de casa, de dentro do ônibus.

Era solteira, morava com os pais no Botafogo e cursava letras. Devia estar na faixa dos vinte e três anos de idade.

Moça caseira, gostava de conversar, apesar de tímida.

Ele já a tinha visto por ali com algumas amigas, do trabalho com certeza. Muitas vezes trazia livros nas mãos. E quase sempre uma bolsa com ar de pesada a tiracolo.

Seus olhos, castanhos e pequenos, combinavam imensamente com seu rosto comprido.

Já fazia parte da rotina dele sentar-se em algum bar da Visconde para esperá-la passar. Suas expectativas eram por vezes frustradas, mas a ansiedade da espera e o prazer de vê-la, outras vezes, eram maiores.

Em um mês de setembro, quando o sonho já durava quase um ano, fazia duas semanas que Marta não ia nem vinha. Naquele fim de tarde ela apareceu, mais linda que nunca a seus olhos. E assim, o reflexo do Sol no aro de nobre metal dourado em seu dedo anelar esquerdo o fez acordar repentinamente de seu mais puro sonho.

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