sábado, 19 de dezembro de 2009

Âmbar

Brilhava no copo o líquido cor de âmbar. Grande amigo. Não apenas consolador, mas inspirador. E como. Quanta reflexão pode caber em um copo de uísque. Quantos amores, quantas lembranças.

Brilhava como os olhos dela. Ah, que saudade daqueles olhos hoje. Não era saudade de ter. Não era preciso possuir. Bastava sentir. Bastava vê-los, de longe que fosse. Mas nem de longe aqueles olhos brilhavam mais por ele.

O sentimento de culpa que descia com cada gole se misturava àquela sensação inexplicável de vazio. Vazio pesado. Sabia que não poderia evitar o momento. Quanto mais tentasse lutar contra aqueles pensamentos mais fortes eles se tornariam.

Era involuntário. A lembrança de alguns poucos momentos vividos juntos misturava-se a memória de dias que não vieram. E de sonhos de noites calmas, noites brancas, com cheiro de dias tranquilos em que se chega em casa cansado, toma-se um copo de leite e se vai deitar.

Sonhos que não poderiam passar de sonhos. Não era verdade que o amor depois de amado deixava de existir? Assim era com os sonhos. Deixavam de existir, de fazer sentido, se vividos. A música existe até que seja tocada. Aqueles momentos de reflexão, de saudade, de uísque e solidão iam durar para sempre. Pelo menos essa certeza ele poderia ter. Porque ela estaria sempre lá, com seus olhos brilhantes e seu amor incansável. Mas sempre longe, longe, longe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário